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terça-feira, 27 de setembro de 2016

A Lapa de hoje, a Lapa de outrora…




 
Perfeito Fortuna, a cabeça do Circo Voador


A Lapa de hoje, a Lapa de outrora…
Por: Marcio Allemand


A Lapa é o coração cultural do Rio de Janeiro, a carteira de identidade da cidade. 
E é assim há muito tempo. Quem frequenta a Lapa? Todo mundo. É lá que as diferenças andam juntas. É onde todo mundo é diferente, o lugar em que as tribos se encontram, quase sempre em harmonia. 

É a Lapa das histórias de Madame Satã, dos malandros, travestis e prostitutas de ontem e de hoje. 
É a Lapa de Selarón, da energia do Perfeito Fortuna, do empreendedorismo de Léo Feijó e Aline Brufato, do samba de Galotti, Teresa Cristina, Nilze Carvalho e tantos outros.

O escritor Lima Barreto, lá pelos idos de 1915, escreveu uma carta a um delegado de polícia onde reclamava que na rua em que ele morava, a Joaquim Silva, ali debaixo dos Arcos, estava começando uma movimentação estranha. Ele falava de umas meninas circulando num ambiente que até então era considerado familiar, algo inadmissível para a época. Tal carta é exemplo que marca a primeira virada na história do bairro mais transgressor do Rio de Janeiro.

Dama da noite
Foi por volta de 1915 que a Lapa deixou de ser apenas um espaço diurno – com seu comércio, seus restaurantes – e deu lugar a um ambiente notívago, boêmio, das pensões e dos cabarés, com as francesas e seus cafetões.

É justamente esse clima que fez com que a Lapa começasse a se diferenciar da Praça Tiradentes e da Cinelândia, famosas já naquele tempo por seus teatros de revista e salas de cinema. Alguns historiadores afirmam, ainda, que naquela época não se ouvia música brasileira na Lapa.

Dizem que os bons compositores até frequentavam o bairro, como Noel Rosa, mas o que se ouvia nesses cabarés era música francesa ou italiana. 
Foi então que começaram a surgir na rua do Lavradio e na da Carioca os cafés cantantes, que seriam os famosos bares com música ao vivo. 

“O chope gelado e bem tirado, com ou sem colarinho, também começava a conquistar o gosto dos cariocas, no lugar do vinho”, conta o empresário Léo Feijó, sócio de uma das casas mais famosas da Lapa de hoje e que recentemente lançou o livro “Rio Cultura da Noite, uma história da noite carioca”

Léo faz questão de dizer que não é historiador, mas conhece muitas histórias da Lapa. Sabe, por exemplo, que por lá moraram personalidades ilustres, como Machado de Assis, Carmem Miranda e até mesmo Jorge Amado.“Era um bairro de famílias tradicionais, principalmente na parte onde hoje está localizada a Sala Cecília Meireles”, diz.

A Lapa também era o ponto dos modernistas cariocas, a partir da década de 1920. Eles frequentavam o bairro, em busca de sua atmosfera agitada. Essa vitalidade vai até meados os anos 1940, quando começa um lento processo de decadência, iniciado nos tempos do moralismo do Getúlio Vargas do segundo governo. Influenciado pela esposa, dona Darcy, ele quis fechar os cabarés, acabar com a prostituição e ordenou o fechamento dos cassinos. Não conseguiu, mas golpeou a Lapa, que, nas quatro décadas seguintes, veria a sua vida boêmia perder o brilho.

O Circo chegou

Em 23 de outubro de 1982, numa Lapa abandonada, repleta de mendigos e sem maiores atrativos, aterrissa, num terreno ao lado dos Arcos, o Circo Voador, depois de uma passagem meteórica de dois meses no Arpoador. 

À frente da trupe, Perfeito Fortuna, com a energia que lhe é peculiar. “Chegamos na Lapa na marra. Nós éramos um farol nesse lugar e esse farol acarretou na recuperação do patrimônio material e do orgulho carioca”. Passados 32 anos, Perfeito não encabeça mais o Circo, mas administra com sucesso a Fundição Progresso, logo ao lado.

Com o tempo, outros empreendedores foram conquistando seu espaço no bairro. Do Circo Voador ao Bar Semente, foram 15 anos
Aline Brufato, atual dona do bar, conta que conheceu o local assim que chegou de Porto Alegre,em 1998. “O Semente tinha uma coisa rara, que era música instrumental popular e reunia desde a Velha Guarda a Teresa Cristina, cria da casa”.

Léo Feijó é outro nome que não pode ser esquecido quando se fala da Lapa. Chegou no bairro no início dos anos 2000 e hoje é um dos mais respeitados empreendedores da noite carioca. “A Lapa é um retrato fiel do Rio de Janeiro e eu quero trabalhar para que tudo aqui melhore”, diz.

Galotti e Krassik

E se a Lapa é até hoje o reduto do samba, isso em parte se deve ao músico Eduardo Galotti, que em 1996 começou a promover rodas de samba no bairro, em bares que já não existem mais, como o Arco da Velha e o Empório 100, que funcionava num antiquário e foi pioneiro na Rua do Lavradio. 

“Foi um movimento coletivo, não teve um só responsável por essa revitalização, essa redescoberta da Lapa. A Lapa é de todo mundo, aqui tudo se mistura e é assim que deve ser”.

Nicolas Krasssik, por exemplo, um violinista francês que chegou ao Rio de Janeiro em 2001 sem conhecer ninguém. Ele já estudava a música brasileira, mas não tinha a intenção de morar por aqui. Seu único objetivo era conhecer melhor os ritmos brasileiros. Só que um acontecimento mudou tudo em sua vida.

“Um amigo me trouxe para conhecer a Lapa umas duas semanas depois de eu ter chegado da França. Estava acontecendo um festival de chorinho na Sala Cecília Meireles e eu conheci muitos músicos nessa noite, como Yamandu Costa e Zé Paulo Becker. Fiquei louco”.

Nicolas, que já gravou com astros como Gilberto Gil, João Bosco e Beth Carvalho, conta que passou a frequentar a Lapa pelo menos uma vez por semana, onde encontrou sua turma. “Eu já falava português, mas com a linguagem universal da música, os convites foram surgindo e eu resolvi ficar. A Lapa foi meu primeiro palco”, diz.

MÚSICAS QUE FALAM A LAPA



Navegando pelo Google descobri uma dissertação fantástica sobre a Lapa apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional da UFRJ.
A autoria é de Vanessa Jorge Araújo.

Entre tantas coisas interessantes que li nas 174 páginas que compõem a " LAPA CARIOCA, UMA (RE)APROPRIAÇÃO DO LUGAR, consta essa seleção de músicas que falam sobre a Lapa em diversas épocas, através de seus intérpretes e compositores.


FLOR DA LAPA - Wilson Batista
http://youtu.be/cBMFcVRt0M0

CAMISA AMARELA - Ary Barroso
http://youtu.be/vPcJZQZWZvw

SAUDADES DA LAPA (instrumental)
http://youtu.be/dKdSq6iffzk

LARGO DA LAPA - João Nogueira
http://youtu.be/ZuSyXskgtu0

RAPAZ FOLGADO - Noel Rosa
http://youtu.be/uGOxVrcFoik

DESAFIO DE MALANDRO -  Chico Buarque
http://youtu.be/FuN853WAJu0

EU VOU PRA LAPA - Alcione
http://youtu.be/zMctrCzbGN8

HOMENAGEM AO MALANDRO - Chico Buarque
http://youtu.be/S9AbY2yStzk


LAPA DA DÉCADA DE TRINTA - Moreira da Silva
http://youtu.be/MdF2vyNZxcQ

FESTA NA LAPA - Marcelo D2
http://youtu.be/wIug5Mehvzw

LAPA - Marcelo D2
http://youtu.be/6-fmozhTG94

LAPA EM TRÊS TEMPOS - Samba Enredo Portela Portela 1971
http://youtu.be/HG7m6E6Aqxc

DAMA DO CABARÉ - Noel Rosa
http://youtu.be/1ImErygKe44

MALANDRAGEM - Marcelo D2
http://youtu.be/lkBYyybaSXA

LENÇO NO PESCOÇO _ Wilson Batista
http://youtu.be/vmD6D0zAGnc

AI, SE ELES ME PEGAM AGORA- As Frenéticas
 http://youtu.be/zWa6yJwB1RY

A LAPA DE ADÃO E EVA  - Samba Enredo Beija Flor 1985
http://youtu.be/RwNmdydsBY4

LAPA - Caetano Veloso
http://youtu.be/AGq_XvY8jjY

HISTÓRIA DA LAPA - Nelson Gonçalves 
 http://youtu.be/MNkczv9XqaA